sábado, 28 de julho de 2012

MESTRE VITALINO E SUA INFLUÊNCIA NA ESSÊNCIA DO ARTESANATO




Como já foi anteriormente discutido sobre a cerâmica figurativa não poderia faltar aqui um espaço dedicado ao grande artista popular, Mestre Vitalino, que com sua arte influenciou e modificou o comportamento de vida de muitas pessoas de sua região. E contribuiu para o desenvolvimento social e econômico do Alto do Moura, bairro localizado no município de Caruaru, a 132 km do Recife. Este que foi considerado pela UNESCO como o "Maior Centro de Artes Figurativas das Américas". Desta maneira o município ganhou forte identidade e ainda atraiu pesquisadores, turistas e empresários. A seguir um registro do portal que o bairro Alto do Moura ganhou pelo seu reconhecimento identitário.



Vitalino Pereira dos Santos, nasceu em 1909, em Caruauru, PE. Além de figureiro era músico. Ainda menino, aprendeu com a mãe, uma paneleira, a moldar o barro fazendo bichinhos, que depois vendia na feira. A seguir, começou a produzir figuras expressionistas e de forte dramaticidade, tendo como temas cenas do cotidiano, dos ritos de passagem e da vida das pessoas. Vitalino retrata as diversões do povo, como o maracatu, os tocadores de zabumba, de pífaro, de safona, ou a religiosidade com os santos, em especial São Francisco, e os presépios. Em seus trabalhos estão presentes também profissões, como vaqueiro, dentista, tipos do agreste, cangaceiros, anjos, padres, portanto, os vários elementos que compõem a rotina dos sertanejos. O humor e a poesia fazem parte da criação do mestre, que agrupou as figuras, criando conjuntos e situações anedóticas e líricas para amenizar as mazelas da dura vida do homem do sertão. (TIRAPELI, 2006, P.34-35)


Seu trabalho passou a ser conhecido nacionalmente em 1947, quando suas obras foram expostas pela primeira vez no Rio de Janeiro.
Assim de acordo com Zé povinho de Caruaru e das redondezas:


 Vitalino, é um interprete fiel dos seus sentimentos, fala com propriedade de sua vida e suas aspirações, através da modelagem do massapé retirado da vasante do rio Ipojuca. As figuras e bonecos reproduzem personagens tirados do seu limitado círculo de interesses, tratados num estilo particular, refletindo com clareza a cultura local da área em que ele sempre viveu. Ele não capta somente seu mundo e transporta para o barro, ele veicula, pela intencionalidade das suas composições, pelo efeito de certos artifícios de atitude ou exagero de particularidades, ou ainda através das suas histórias, os valores do mundo, seja ele, estético, morais, sociais, religiosos. viveu. (BELTRÃO, 2001, p.244 e 245)

Estes registros condicionaram Vitalino a ser em sua região um interprete do povo, ou seja, um líder de opinião ficando para a história regional desde 1963. Hoje sua casa se transformou na Casa- Museu Mestre Vitalino, que exibe os objetos do mestre, suas ferramentas de trabalho, incluindo o forno rústico e circular onde realizava a queima do barro.


Vitalino, utilizava de diversos artifícios para propagar suas experiências e aprimorar sua relação com o espaço em que vivia. É somente observar as cenas e ver que nada é ingênuo, repare nas expressões, nas proporções dos personagens, nas representações das vestimentas, ou seja, cada representação possui uma história. Como exemplo, pode-se observar, que as vestimentas na maioria das vezes faz referência a chita e que, segundo pesquisa retirada do livro Imaginário Pernambucano:


A chita foi criada na Índia e chegou ao Brasil através da colonização portuguesa. As estampas da chita à moda brasileira só foi possível quando Portugal permitiu a impressão de tecidos no Brasil. Aqui, ocorreu uma versão tupiniquim do tecido que, por ter sido negociado à preço baixo, logo caiu no uso popular e se integrou ao folclore nacional. Exemplo disto são as roupas dos brincantes de bumba-meu-boi, coco-de-roda, os bacamarteiros etc. A importância que o tecido de chita tem para a arte figurativa do Alto do Moura pode ser percebido nas cores que são pintadas as roupas dos bonecos. São cores puras, como o verde, amarelo, vermelho e azul a formarem grandes estampas florais e desenhos ingênuos. Tais cores passaram a tingir diretamente o barro com a mesma estamparia do tecido. (ANDRADE et al, 2006,p.60)


Pode-se então, visualizar por meio de seus trabalhos, que tudo comunica: passagens, fatos e historias de matéria-prima que também compõem o seu espaço. Portanto a importância em destinar um espaço da pesquisa para este Mestre que tanto contribuiu para o desenvolvimento sustentável e a independência simbólica do lugar em que viveu e conseqüentemente para a essência do que é o artesanato. Ou seja, um fazer fundamentado e sempre aprimorando a relação com o espaço em que se vive.

Fonte

BITTAR, Wanessa Dose, O artesanato e suas contribuições para a idenpendência simbólica e para o desenvolvimento sustentável a partir do meio de Folkcomuicação. XIV Conferência Brasileira de Folkcomunicação- "O Artesanato como processo Comunicacional", Juiz de Fora- MG.


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