domingo, 15 de julho de 2012

A CRIAÇÃO DA TRADIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL


    Muitos são os lugares "privilegiados" que utilizam da tradição para alavancar o desenvolvimento territorial. Mas seria a tradição algo sagrado e prestígio de apenas alguns lugares? Como a tradição pode se tornar presente? Inicialmente, é necessário compreender o conceito de tradição, que segundo o filosofo Gerd Bornheim a palavra: vem do latim: traditio. 

   "O verbo é tradire, e significa precipuamente entregar, designa o ato de passar algopara outra pessoa, ou passar de uma geração a outra geração. Em segundo lugar, os dicionaristas referem a relação do verbo tradire com o conhecimento oral e escrito. Isso quer dizer que, através da tradição, algo é dito e o dito é entregue de geração a geração."
  De acordo com o que foi mencionado acima e com base em conhecimentos previamente adquiridos com o estudo, sabe-se que a tradição pode se apresentar de duas formas: como algo conservado por mestres e passadas de mestres a aprendiz ou como "tradição" recente que foi criada por um grupo social que conseguiu retomar saberes antigos ou que foram capazes de se apropriar de saberes e de fazeres trazidos por mestres de outros lugares. Sendo esta última, mais do que somente cópia, mas uma reestruturação sociocultural. 


  Para caráter de exemplo se tem que a tradição preservada encontra-se na tecelagem em tear e nos santeiros localizados na região das Vertentes. No exemplo da criação de novas tradições pode-se mencionar: o estanho em São João Del Rei, Tiradentes e Prados com um diversificado artesanato e Bichinho próximo a Tiradentes, com sua serralheriaartística e suas esculturas em madeira, que compõem as atividades da Oficina de Agosto que foi idealizada pelo antiquário conhecido na região por Toti. 

  A seguir um trecho de entrevista concedida a pesquisadores da UFSJ- Unitrabalho, em 14/10/1999, que relata de onde originou-se a tradição dos decoradores e restauradores de móveis de São João Del Rei:

  Meu pai... é...meu pai é, ele era tecelão, ele trabalhou na fábrica de tecidos, não é?; e... num belo dia apareceu um francês, até não me lembro agora o sobrenome dele, só que era Paulo, mas é... então ele tava procurando uma pessoa que soubesse pintar, que tivesse um pouco de habilidade na pintura, né, de trabalhar com tinta. E... então ele começou a trabalhar com esse francês, esse francês começou a passar algumas técnicas pra ele, pra... pra envelhecimento de móveis e eu com, com, com onze anos comecei a trabalhar com ele, com esse francês lá também. E nos fomos aprendendo técnicas e aperfeiçoando nosso trabalho. Ele passava muito desenho pra gente, entendeu? Moldes... e a gente também criava alguma coisa em cima daquilo, a gente não ficava só naquele molde, naquela...; em cima daquele molde a gente criava mais alguma coisa, entendeu?... e depois começou a partir pra esses, pra esse lado mineiro da coisa.. pintura de roça, aqueles móveis com, com galinhas, com vários motivos de fazenda... entendeu? É. Então a gente trabalha até com Terra, entendeu? Terra, tinta que a gente tira de argila, de variedades de coisas que a gente trabalha.(ABREU, 2007, p.205--206)

Nota-se nesta entrevista, que a tradição é iniciada por um indivíduo, que se predispõem a passar um conhecimento e que com o tempo já foi reinventada e continua viva na região. Constituindo-se como um ativo econômico para o local e conseqüentemente contribuindo para a afirmação da identidade e o desenvolvimento territorial, assim, conferindo-se como grande atrativo para turistas, pesquisadores, empresários e públicos afins.


É importante frisar que a tradição pode ser inventada a todo o momento, mas, o que lhe permite permanecer no tempo é o grau estratégico de como ela é transmitida, se ela possui espaço para o aproveitamento de recursos que o território oferece e principalmente se o conteúdo beneficia o movimento da expressão de idéias no ritmo das mudanças de gerações que consequenemente possuem necessidades comunicativas diferentes.


Fonte

BITTAR, Wanessa Dose, O artesanato e suas contribuições para a idenpendência simbólica e para o desenvolvimento sustentável a partir do meio de Folkcomuicação, XIV Conferência Brasileira de Folkcomunicação- "O Artesanato como processo Comunicacional", Juiz de Fora- MG.

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