O artesanato inserido no contexto capitalista não pode ter a sua cadeia produtiva atada a um caráter amador, afinal como um setor da economia, está sujeito às exigências do mercado. Deste modo, o artesão deve estar atento a critérios como qualidade, preço e
potencial cultural do produto. A amálgama entre comunicação e design sustenta a viabilidade destes critérios, além de contribuir para a sustentabilidade do processo. A atividade do design tem seu início com a análise crítica da potencialidade que a organização artesanal pode vir a ter com sua intervenção. Diagnosticada a situação, o profissional da área de design tem condições de desenvolver ações estratégicas no campo da qualificação da produção. De modo, a garantir os valores necessários para que o produto possa se configurar dentro dos padrões competitivos. Segundo Odécio Branchini:
Mesmo sendo uma produção artesanal, esta pode se amparar nas abordagens metodológicas dos processos de projeto de produto, bem como utilizar as ferramentas da gestão do design, na geração de soluções criativas e funcionais para os produtos desenvolvidos, além de uma consciência crítica de planejamento, organização e controle de projeto, antecipando-se às necessidades do cliente, de modo a encantá-lo, garantindo assim sua fidelidade (BRANCHINI, 2002).
Diante da estrutura proporcionada pela intervenção do designer, é necessário que se crie um canal a fim de trabalhar a formação do público ao qual se deseja atingir. A questão da identidade do produto passa a ser evidenciada na cadeia produtiva, assim destacando os valores intrínsecos que constituem a imagem do mesmo. O conceito de imagem empregado perpassa o caminho da idealização à materialização do processo. A Comunicação tem diversas interfaces que auxiliam na afirmação do valor dos produtos artesanais para o público consumidor.
Na atividade empresarial, a comunicação desempenha função de vender a "imagem" e propagar o status
existente no produto a fim de formar público. "A imagem institucional transforma-se em uma aura que recobre toda a empresa, e exala seus valores, seus princípios, sua filosofia- enfim, tudo aquilo em que é preciso crer para ver" (DUARTE, 2002, p.190 -191).
O marketing é uma ferramenta de aprimoramento da mensagem que é dada por meio de pesquisas sobre o mercado consumidor, o qual pretende se conquistar. Neste sentido, ele acompanha todas as fases da construção da identidade da organização empresarial. O possível olhar do consumidor sobre os produtos acompanha todo o processo de produção.
A imagem como um jogo de sentimento, desejos, pulsões; enfim a psique do público consumidor. Nesse sentido, a imagem de uma empresa não está em si mesma, mas na visão que o consumidor e a opinião pública têm dela, e isso depende não tanto de atitudes concretas, da excelência de produtos e serviços, mas sobretudo da aura erigida pelo marketing ( DUARTE, 2002, p.191).
Se a função do designer é gerir o desenvolvimento da criação, com a finalidade de obter resultados coerentes com as demandas do mercado contemporâneo, o da comunicação, com suas distintas atuações, é acompanhar a trajetória que engloba todo procedimento criativo, de modo a compreender e defender a identidade que o produto carrega em si. Assim sendo, a comunicação tem a autonomia de formar uma opinião pioneira sobre o que foi produzido, criando mecanismos para formar público, de modo a educar o seu olhar. Nas palavras de Ricardo Lima:
Isso é informação, é formação do público, é educação de mercado. Então, eu vou criar um público para seu objeto e não o objeto para o seu público. Vou trabalhar com etiquetas de informação mostrando ao público que objeto é esse, mostrando ao público que é um privilégio possuir um objeto como esse. Que esse não é um objeto qualquer. Pelo contrário, esse objeto tem um cara, uma identidade, provem de determinado lugar, foi feito por determinada pessoa e ali, na etiqueta de venda, está o nome de quem o fez. Ele não é anônimo, não é descaracterizado, não é despersonalizado (LIMA, 2004).
O elo de interdependência entre o design e a comunicação dentro da cadeia produtiva do artesanato efetiva-se a partir de uma troca contínua de saberes em prol da expansão de mercado e consequentemente de público consumidor.
Fonte
TEIXEIRA, Raruza Keara, Bittar, Wanessa Dose. A interface entre o design e a comunicação na estruturação mercadológica das organizações artesanais. XV Congresso de Ciências da Comunicação na Região do Sudeste 2010 - Vitória- ES.